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Uma estrada de pedra

Numa estrada tão antiga como a que ligava Monção a Melgaço, outrora caminho de peregrinações, comércio e trânsito de pessoas e animais, muitas são as estórias que as suas curvas contam. Deixo-vos uma delas, em forma muito breve, para aguçar o apetite antes de percorrermos os cerca de 25 quilómetros que separam os dois locais.

A primeira estória é a de Pedro Macau, um verdadeiro vilão do tempo em que se construíam pontões e pontes de caminho de ferro do lado galego do Rio Minho. Tão mau era este capataz galego que nenhum dos cantoneiros e outros trabalhadores o suportava. Como numa história da escravatura americana, os quase escravos decidiram vingar-se: prepararam-lhe uma surpresa quando colocaram um sapo no meio das rãs que costumava comer. Tal lhe provocou uma indigestão e uma infecção, estado com que os trabalhadores - no qual se incluía um exímio Mestre Barreiros, que havia esculpido as estátuas do Santuário da Peneda- gozaram sem que o carrasco soubesse. No entanto, após algum tempo, a partida foi descoberta, e todos os trabalhadores foram despedidos e o dinheiro da empreitada devolvido aos contratantes dos trabalhos. Em resposta, Mestre Barreiros e os seus quatro filhos esculpiram uma estátua à entrada da sua casa como sátira a tão vil figura, estátua essa que incluía uma trave de uma latada colocada por cima do seu ombro esquerdo.


Ficaram eternizados os seguintes versos, declamados no dia da inauguração com direito a foguetes e fanfarra:

Ó Macau, lobo-cerval

Anda ver o teu retrato

Aqui em riba do portal

Tens a cara dum mulato

E, sendo assim tão guapo

Comestes por rã um sapo

Anda à Porreira, anda cá

Vem que aqui também os há

Anda ver, biltre, se gostas

(Joelho em terra, à caçador)

De levar a trave às costas

Como o mais vil malfeitor!

E aqui, em riba do muro.

Estás preso e bem seguro!”

Hoje, na mesma propriedade que fica situada a cerca de 200 metros da entrada da Ponte do Mouro (sentido Monção-Melgaço), é possível admirar um belíssimo espigueiro fora do vulgar, uma vez que apresenta-se muito mais largo do que aqueles que se encontram pelo Minho; resulta da junção de dois espigueiros e apresenta uma janela entre os dois corredores.

Não perca outros pormenores sobre a estrada mais romântica do Alto Minho nos próximos posts.

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