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O Miradouro mais romântico do Alto Minho

Isto de os bloggers colocarem os lugares, restaurantes, hotéis em rankings tem muito que se lhe diga; alguns escrevem-no porque sentem que atraem atenções, outros porque provavelmente gostam de listas, outros ainda porque conseguem definir muito bem onde foram mais ou menos felizes enquanto turistas ou simples visitantes. Seja como for, são opiniões pessoais, ainda que informadas. A minha opinião fica já com uma declaração de interesses: vivo em Monção há 7 anos e sou suspeito.

Qualquer local bonito pode ser romântico. A verdade é que a presença de quem nos faça feliz, em qualquer idade, deveria ser suficiente para um momento romântico. Mas, e se junto da cara-metade, estiver num cenário cheio de simbolismo, junto com uma paisagem verdadeiramente refrescante, debaixo de uma árvore frondosa e bela? Apesar de o Alto Minho ter muitos e belos locais para se ser feliz romanticamente falando, talvez um dos mais atraentes seja mesmo o Baluarte de Nossa Senhora da Guia, bem na Muralha de Monção, sobranceira ao Pai Minho.


A árvore belíssima da imagem é um olmo, ou negrilho, como é conhecido em Trás-os-Montes, onde é autóctone. Em Monção, o Olmo (sim, com maiúscula porque tem esse estatuto) é provavelmente um dos locais mais fotografados do Alto Minho, juntamente com a ponte medieval de Ponte de Lima e a Ponte Eiffel de Viana do Castelo.


Cada uma com o seu encanto, é certo. Mas e o que dizer deste local, pontuado pela árvore preferida de Miguel Torga, lado a lado com a escultura polémica de Cutileiro da Deu-la-Deu, a heroína medieval que evitou a guerra entre os monçanenses sitiados dentro da muralha e castelhanos durante as Guerras Fernandinas (1369-1383)? Os bancos que lá se encontram estão precisamente voltados para Espanha, a relembrar os tempos da construção heróica, cruel e abnegada da nacionalidade. Aliás, toda a Muralha emergiu de outro momento de afirmação das fronteiras já no século XVII, após a Restauração de 1640.

Esta estátua mostra muito da relação amor-ódio entre portugueses e castelhanos/galegos: se por um lado oferecemos o pão para que se vão embora, com a outra mão guardamos um outro pão em forma de proteger o que é nosso.

Toda esta rua, localmente conhecida como os Néris apresenta esta dualidade entre a Galiza e o Minho, este amor tornado impossível pelo passado tempestuoso e cruel entre ambos os pais, tal como na perpétua história de amor de Romeu e Julieta, cujos apelidos não permitiam a aceitação do amor. Por isso mesmo João Vale, o poeta monçanense mais comemorado, no início do século XX captou numa oitava feliz, a essência deste viver perto mas longe ao mesmo tempo:


“Vendo-os assim tão pertinho A Galiza mais o Minho, São como dois namorados Que o rio traz separados Quasi desde o nascimento. Deixai-os, pois, namorar, Já que os pais para casar Lhes não dão consentimento.”

Existirá algo mais romântico no Alto Minho desde 1902, data em que José Rodrigues Vale de seu nome de nascença colocou neste verso o viver das populações raianas da margem esquerda e direita do Grande Pai Minho? Não creio. Fotografe-se, de mãos dadas numa selfie de bom-gosto, um beijo junto ao painel de azulejos que se encontra pertinho do olmo e da estátua de Deu-la-Deu.

Existirá miradouro mais romântico? Talvez, mas ainda não foi construído!









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