Exposição de homenagem a João Verde, o regionalista republicano e homem dos 7 ofícios da imprensa li
Colaborador, redactor, jornalista, correspondente, repórter, cronista, crítico e tradutor literário, poeta... João Verde, ou Marcos da Portela, ou talvez RIP, ou tantos outros pseudónimos de José Rodrigues Vale, um homem bem à frente do seu tempo na luta por causas regionais e pela liberdade de expressão e pela expressão livre e não condicionada da imprensa de finais do século XIX, início do século XX.
É muito provável que o seguidor do Alto Minho Romântico conheça apenas um poema de João Verde, a que já nos referimos aqui numa publicação com a caixa de Lenço de Namorados. Mas José Rodrigues Vale, nascido há 150 anos foi muito mais do que a oitava que anuncia uma união entre o Minho e a Galiza, tão separados pelo rio (da história)!
A exposição tem tanto de singela como de reveladora: o Arquivo Municipal de Monção, ele próprio um edifício elegante, alberga uma exposição surpreendente: pelo arranjo gráfico dos painéis, pela inclusão de jornais nos quais João Rodrigues Vale colaborou/lançou/ coordenou, pela ampla visão que é oferecida ao visitante e, pelo seu curador, Fernando Prego.
João Vale dificilmente encontrará figura semelhante no Alto Minho que tenha tido a capacidade de abrir horizontes para além da visão do próprio umbigo. Talvez se compare ao Padre Himalaia (considerado por muitos o primeiro ecologista português) no seu esforço de ir atrás de um ideal, sem olhar a horários, meios ou folha de salário. Num dos exemplares d'O Regional, um retrato do homem:
"O REGIONAL é isto mesmo: pequeno como pedaço de terra que é o seu património, risonho como ele e como ele amorável e cheio de abnegações piedosas no culto da sua região. Ama a tua terra como a ti mesmo!" (in Prosas e alguns versos de João Verde I)
A síntese de um herói romântico, um homem de causas o nosso João Verde, defensor de causas como a política ao serviço do cidadão, o regionalismo e a República, esta última que lhe podia ter valido a prisão, ao auxiliar a fuga para Espanha de Sampaio Bruno, que havia participado na malograda tentativa de implantação do regime Republicano em 31 de Janeiro de 1891.
Uma faceta que também é abordada na exposição é o contacto com figuras relevantes das letras e das artes do final do século XIX e inícios do século XX, como Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Amadeo de Souza Cardoso, Eduardo Viana e, por intermédio deste último, Robert Delaunay, cujo quadro Natureza Portuguesa Morta (1916), cuja reprodução patente na exposição inclui o poema emblemático da sua obra poética.
É destas e de outras aventuras que nos fala Fernando Prego, o curador desta exposição e coordenador/editor da colectânea de textos sobre a vertente jornalística de João Verde (edição da CM Monção, 2013). Uma hora passada a ouvir sobre a sua paixão/investigação transportam-nos para um universo paralelo! Muito interessante o que nos diz e como nos diz! Obrigado.
Apenas uma sugestão gostaríamos deixar: sendo uma exposição que celebra um ícone cultural do Alto Minho, que esta esteja disponível ao fim-de-semana para permitir que os 150 anos do nascimento deste homem multifacetado sejam devidamente apreciados. Até porque a homenagem existe em vários motivos da vila de Monção, seja no cineteatro, seja no busto colocado nos Néris e no seu painel icónico. O nosso agradecimento à Maria Albertina Santos pela cedência da foto de capa deste post. A não perder até 2 de Fevereiro!
Boas andanças!