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Em ritmo chique... por Molêdo do Minho


Existem alguns recantos reservados por este Alto Minho fora. À semelhança de outros locais junto à costa norte portuguesa, a burguesia endinheirada do Porto e arredores procurava o chique da costa a norte de Viana do Castelo. Môledo do Minho é um desses lugares.

Na década de 1920 surgiam exemplos de Art Déco de novas e arrojadas construções, como é o caso do Casino de Afife (Viana do Castelo). Môledo do Minho (Caminha) é um caso quase único no norte do país por ser palco de uma interessante luta na arquitectura revivalista de finais do século XIX e um modernismo que dava os primeiros passos na década de 20 e que conheceu outras expressões durante a década de 1960. Acontecem casos semelhantes em Afife (Viana do Castelo) e Ofir (Esposende), em que é possível admirar os palacetes dos "torna-viagem", isto é, os portugueses que haviam sido bem sucedidos no Brasil, e que regressavam à terra natal, erigindo belos palacetes em estilos clássicos revivalistas, italianos e franceses. No entanto, é possível admirar igualmente alguns dos primeiros trabalhos de Siza Vieira ou Souto Moura.

O post que vos escrevo dá conta de alguns dos edifícios de arquitectura privada que conferem a esta pequena e pacata estância de férias uma atmosfera de requinte, presente e passado. E este é conseguido à custa de recuperações bem sucedidas de alguns palacetes dos "torna-viagem", que no acesso principal, chegam a competir dos dois lados da rua, frente a frente!

A casa que dá capa a este post pode ser encontrada na estrada de acesso a Molêdo. Foi a casa de António Pedro, o artista plástico surrealista e escritor. Um imponente chalet de três pisos, com torre, e no jardim sobressai uma marca do exotismo brasileiro, uma araucária, que tantos e tantos emigrantes regressados do Brasil haviam trazido e plantado.

"As novas classes dirigentes locais surgem, assim, como senhores de outros sinais de distinção, legitimadores da uma ordem político-administrativa, primeiro liberal e depois republicana. Nelas se destaca a presença do "Brasileiro” de “Torna-viagem", filho e herdeiro dos pergaminhos da elite rural tradicional, fazendo-se representar, na casa e nas novas expressões do seu quotidiano e tornando-se uma figura emblemática" (António Monteiro)

No espaço de 100 metros, encontramos 3 exemplos de casas de Brasileiro "torna-viagem", que davam o nome de Vila, geralmente com o nome da esposa ou com nomes religiosos (São Luiz). De pormenores que merecem a atenção, seja no ferro dos portões, nas proporções cúbicas dos edifícios ou das fachadas que conferem às casas um ar cosmopolita dentro da ruralidade onde estavam inseridas, imagine o leitor o que seria esta rua há 100 anos atrás com estes belíssimos edifícios em todo o seu esplendor! Ainda hoje, estão num estado de conservação que oscila entre o muito bom e o razoável e causam admiração!





Uma propriedade mereceu uma paragem mais demorada: trata-se da Capela de Santa Teresa, em estilo barroco (meados do século XVIII), para aqui trazida, pedra após pedra, e colocada na propriedade do Eng. Álvaro de Sousa Rego. A casa que integra o edifício residencial e a capela terá sido construída no início do século XX e apresenta inúmeras características de bom gosto semelhante às das casa dos "torna-viagem"



Por Môledo do Minho não faltam edifícios que enchem as ruas despidas de gente no inverno. Fica o convite para deixar o olhar nas frontarias das casas, olhar os andares mais cimeiros e maravilhar-se como fazemos cada vez que vamos de visita a esta pequena aldeia costeira do concelho de Caminha.



Boas andanças!

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